Novidade

Novidade:

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sonhos

Hoje eu sonhei
Com um mundo sem sonhos:
As pessoas eram falsas, descartáveis,
Sem atos notáveis, sem ação.
Eram como robôs indo e vindo
Com rotas pré-determinadas,
Um GPS sem recalculação de rotas,
Sem emoção.
A felicidade momentânea
Nos bares, nos parques,
Nos pontos de droga;
A Mariazinha ri com seu amado,
Pensando no outro,
Na briga com a mãe,
Na sua fuga para o mundo "real".
O Joãozinho bebe para esquecer,
O outro esquece de tudo para só beber,
E assm todos "sonham" involuntariamete
Com o delírio, o cemitério.

Acordei, mas tinha algo estranho,
O meu sonho acabou com minha volta
À cama, para ver se dormia,
Para ver se sonhava com um mundo melhor...
E sonhei.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Lembranças

Chovia. Eu esperava a minha deixa, uma hora pra seguir meu rumo, quando um fluxo de pensamento acelerado me atingiu. Memórias, desejos, tristezas, um delírio. Encostado na parede, me deixei levar, não tinha pressa. De repente me vieram as lembranças da infância, do dia em que olhávamos pras estrelas e iniciávamos aquela filosofia de criança, o futuro, até elas sumirem e começasse a chover. Me lembrei das expectativas, do clichê mais belo das inesperadas expectativas. Quando me vi, estava pensando no lugar de onde acabara de sair, do passeio do parque do dia anterior, do evento do ano passado, em que todos se reencontraram, e riram. Tentei parar de pensar, a chuva afinava, e mais e mais vinham as festas, as crises, o dia em que vimos a morte de perto, ou ainda quando eu me conheci, te conheci. E assim, depois dos quinze minutos mais resumidores da minha vida, a chuva parou, mas ainda chovia destro de mim: desejos, lembranças, esperanças, lágrimas. Uma felicidade tremenda de voltar ao passado e reconstruir tudo, de viver de novo e de novo, cada vez mais intensamente veio à tona. Sua imagem apareceu, seu sorriso, o campo aberto e estrelado na primavera, dos piqueniques e das estrelas. Mas não. Segui meu caminho rumo ao meu destino, talvez um lugar aconchegante, quem sabe meu fim, meu desastre. Mas ainda resta alguma coisa, toda vez que chove lembranças em mim, toda vez que ando pelas ruas a noite, toda vez que chove, daquelas estrelas que não vejo mais.

domingo, 14 de outubro de 2012

Crises

Flora vive uma crise existencial antitética:
Sofre com a dor da prisão,
Dos momentos infinitos sem descanso,
Mas também com a privação, a falta de decisão,
Em uma exacerbada liberdade.

(intestinal)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Poeta-falsidade

Nos confins do subúrbio
Está o poeta-depressivo:
Amor, cotidiano, felicidade,
São temas do seu coloquialismo,
Mas ao acabar um poema chora,
Da sua vida, do mundo, de todos,
Deita nas teclas do piano sofredor,
Com flores amarelas em memória da solidão.

Na loucura do centro da cidade
Está o poeta-pseudodepressão:
Morte, tédio, cansaço,
São tópicos dos seus versos brancos,
Mas ao acabar um poema brinda,
Vinho, uísque, a amizade,
Deita no Futurismo vivido,
Na memória dos descartáveis que vêm e que vão.

No isolamento do desconhecido
Está o poema-emergente:
Amor, morte, coisas simplórias
São o resumo de seus versos metrificados,
Mas ao acabar um poema o apaga,
Lê parnasianos, neoclássicos, romancistas,
Deita na matemática poética,
(Ainda tem muita falsidade para aprender).

domingo, 7 de outubro de 2012

Evolução

Era ainda garoto quando, um dia,
Enfrentou a pior prova da sua vida:
Não valia nada, não mudaria sua vida,
Ele não sabia resolver absolutamente nada,
Enquanto seus amigos se divertiam no êxtase do sofrimento.
O prêmio era bom, mas ele abriu os braços após o tempo mínimo,
Entregou a folha vazia ao fiscal falando com seu tom conformista:
"Não vou perder mais tempo com o nada que sei fazer".

Era já adulto quando, um dia,
Enfrentou a pior crise de sua vida:
Ele não valia nada, e não mudaria de vida,
Não sabia resolver absolutamente nada,
Enquanto seus amigos se divertiam no êxtase do seu esquecimento.
O prêmio era bom? Que prêmio? Ele abriu os braços após puxar o gatilho,
Entregou a vida vazia à morte com seu tom conformista:
"Não vou perder mais tempo com o nada que sei fazer".

Cansaço

Estou cansado dos inícios maltratados,
Dos projetos inacabados,
Das ideias formuladas com um desejo incessante de erro,
Mas não descanso.

Estou cansado do meio-termo, do em cima do muro,
Dos improvisos desgraçados,
Da mentira e da hipocrisia queimando nas almas,
Mas não descanso.

Estou canso do excesso, da exaustão,
E também da procrastinação excessiva,
Da vida que não se vive,
E não descanso.

Estou cansado desse poema,
Do pieguismo, dos clichês.
Estou cansado de estar cansado,
Do cansaço que dá reclamar do cansaço.

(Boa noite)

domingo, 9 de setembro de 2012

Vida campestre

Ó que beleza esta vida
Bucólica, ecológica, natural,
Vivo no campo, que alegria
Essa minha vivendo no mundo rural.

Fogão a lenha, água da bica,
Sem problemas externos, autossuficiência,
Vivendo a alegria do isolamento da ciência,
Da paciência, da existência.

Ó que belos os animais,
Esquilos e pássaros nas minhas janelas.
Que belas hortas, belas frutas,
Trabalho que enferruja dos cintos as fivelas.

Mas que bela essa vida campestre,
Em que a realidade é uma ilusão.
Mas (algumas vezes) prefiro viver nessa Idade Média
A viver na modernidade da depressão.

sábado, 1 de setembro de 2012

Ócios do ofício

Eu pensei que hoje seria um dia melhor,
Que as pessoas falariam com paz,
Que as pessoas andariam em paz,
Ilusão.

O dia foi o mesmo de sempre,
A mesma eterna contradição
De uma hora ser alegria, correria,
De outra ser tristeza, comoção.

Um dia acabo me acostumando com isso,
É a lei da sobrevivência em uma sociedade conturbada,
Onde o altruísmo é sinônimo de utopia,
Mas esqueçamos as críticas por agora.

Hoje a noite eu pensei como o dia foi bom,
Mas como poderia ser melhor,
Sendo que quando eu acordei hoje eu pensei
Em não querer me arrepender de levantar.

(Ah que beleza é viver
Esperando o dia ideal.
São os ossos do ofício,
São os ócios do ofício,
Esperar, esperar)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Paixão poética

"As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par..."
(Alphonsus de Guimaraens)

Angelina, garota bela era ela,
O nome dizia tudo, nada mais,
Vivia na surrealidade de ser feliz.
Adorava poesias, aquelas profundas,
Lia Camões com a paixão de Azevedo,
Tinha tudo o que desejava, eram bem mimada,
Só não tinha o amor que lia...
E isso a desolava.

Todos os dias esperava o príncipe encantado
Até que em uma hora começou a se tocar.
Desistiu da metafísica, do que queria,
A sua felicidade se voltou ao consumismo.
Até mudou seu gosto poético:
Olavo Bilac agora a contentava.

Até que um dia, ao entrar na confeitaria
Viu tudo o que queria: o amor à primeira vista.
O rapaz entendeu e foi ao seu encontro.
Ficaram dois anos grudados, emaranhados,
No puro amor de quem é puro.
Parecia infinito, enquanto durou,
Porque infinito só as lembranças
No seu relicário, no seu estado de loucura.

O fim do relacionamento chegou, enfim.
E enfim Angelina se tocou de sua realidade:
Ao ler Alphonsus de Guimaraens
(suas mágoas eram derramadas nas poesias)
Viu que o que lia traçava seu destino.
Leu o primeiro poema, fechou o livro, sorriu, abraçou forte os pais,
Disse que ia dar uma volta pela praia
(Morava perto perto de uma praia deserta, com um farol abandonado).
O primeiro poema era Ismália.

E ela realmente enlouqueceu.
O garoto, sabendo de tal "passeio", a perseguiu.
Ainda a amava, agiu por impulso no passado.
Chegaram na praia, ela subiu no farol, recitando os versos
(Que memória, lera uma vez e já sabia de cor).
Ele a acompanhou, sorrateiramente.
A brisa era boa, uma lágrima caiu do olho direito
Daquela menina mulher, que vivia na surreal paixão,
Na felicidade.

Ela agora chorava de alegria,
Se encontrou no mundo, acordou.
Pena que ela acordou subindo a grade do farol.
Lá de cima, via o mar batendo nas pedras, que belo.
Sabia o que queria, era isso,
O mundo não precisa de mais sonhadores, ela dizia.
E assim, quando ela ia realizar o ato final,
Recitar a última estrofe do belo poema,
O moço apareceu, só deu tempo de gritar o seu amor à ela,
Mas ela não ouvia mais a realidade.
Abriu os braços, e em canto lírico recitou:
"Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar..."

E foi.
Pobre Alphonsus, não fazia tais apologias no poema.
Pelo menos agora Angelina, a surreal,
Era totalmente caracterizável pelo seu nome,
E nada mais.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Memórias

E o passado tende ao esquecimento,
As memórias minhas se vão.
Do que já vivi, agora só restam as fotos,
Os risos, os sentimentos,
De um futuro promissor, a ilusão.

Agora só me resta sonhar
O escuro das minhas lembranças.
Ao acordar lembro-me de minha sina:
Viver sem do passado poder falar,
Tentando recuperar, em expectativas, as esperanças.

Minhas lembranças são ruínas,
Onde novas obras se instalarão.
Novos prédios são construídos
Para abrigar novas memórias, erguidas
Sobre o alicerce da alienação.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Dia "feliz"

Hoje o dia foi feliz:
Levantei com o pé esquerdo,
De um pesadelo.
O café estava aguado, amargo,
O leite coalhado.
O chuveiro queimou,
Ensaboado, sem toalha
(Janelas esgarçadas).
Quase fui atropelado,
Pisei no chiclete,
Trombei com 5 pessoas
(Não acho mais meus cartões),
Peguei o ônibus errado
E a sequência de consequências:
Cheguei atrasado, o chefe brigou,
A mesa bagunçada, um sono.
Voltei para casa. Sem energia,
Celular sem bateria
(Depois descobri que meu chefe
Batera em um poste perto de casa).
Mas o dia ficaria melhor.
Fui ao encontro de minha amada
(Tomei uma multa, fui de carro emprestado).
Ela não apareceu.
Encontrei uma amiga, conversamos,
Bebemos (o vinho era bom, mas salgado),
"Você é como meu irmão" ela disse.
Depois dessa dupla decepção amorosa
Só o lar é seguro.
Contas, vizinhos barulhentos,
Troca de tiros na rua, um caos.
Passei o dia inteiro com o sorriso no rosto
No meio de tantas desgraças.
Ao cair na cama, já ao amanhecer,
Concluí que tive um dia de sorte:
"Pelo menos não estou no necrotério".

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A ventura do amor

Entre ironias e desgraças da ventura
O mundo é feito,
E fica desse jeito.

Henrique era um rapaz maduro,
Espírito forte, pensamento positivo,
Bem acompanhado, um exemplo.

Ismália era a ovelha negra,
Meio hippie, meio revoltada,
Adorava passeios na praia.

Moravam na mesma rua
Na beira da praia
Compartilhavam uma felicidade diferenciada entre si.

Era já fim de tarde.
Ismália aproveitava a brisa do mar,
Henrique saia da pelada na areia.

Um entreolhar.
Parecia uma cena premeditada...
De normalidade.

Nunca mais se viram.

Ismália enlouqueceu.
Está com as loucuras no céu
E o corpo no fundo do mar.

Henrique empobreceu.
Pede esmolar no fim do mundo
(Ironicamente) por causa de uma mulher.

E assim o mundo é feito
Pelas ironias e desgraçadas da ventura.
E não muda de jeito.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A noite dos amores mortos - Em 4 atos


Ato 1 - A chegada
Era noite, chovia de modo comum para a estação, o horário.Noite de agosto, passava assim entre poças d'água saltos vermelhos,um longo vestido preto, uma capa. Se dirigia a uma cobertura de prédio, daqueles bem antigos, ela adorava coisas antigas, mas sem muito saudosismo.Sobre a calçada que não se distinguia  da avenida de paralelepípedos, andava sozinha, sob seu guarda chuva pequeno,carregando a morte em sua bolsa, sorriso discreto sobre seu fino chapéu, que dava um teor mais conservador ao seu visual, de certo modo paradoxal. Entrou no hall principal, foi subindo as escadas suavemente, chamando a atenção dos que lá estavam, sorrindo e ignorando.Bateu na porta, estava aberta. Já lhe esperavam.A suave moça então tirou seu chapéu,a capa que sobrepunha o longo vestido.O guarda chuva, esse ficou na entrada.Mas esses são meros detalhes.

Ato 2 - O prelúdio
O felizardo sentado no sofá, levantou-se e encaixou a agulha da vitrola no raro vinil.Tango argentino.Então, pegou o vinho, as taças, se serviram. Uma ceia meio incomum, era carne de bode, a longe mesa os dividia, um em cada canto. Sem conversa, sem suspiros, só o tango queimando a vitrola e sendo absorvido nas almas dos dois, que sentiam a paixão fatal percorrendo seus capilares. Eles sabiam que de lá não sairiam, pelo menos um deles, ou os dois. A comida acabou, e o que restou nos pratos esfriou, o vinho era cada vez mais apreciado e mais rápido os afetava. "E agora?" a moça, chegando até esse ponto, foi capaz de fazer pergunta tão insensata. "É o fim" disse ele suavemente, e então se levantaram, ao mesmo tempo e como se combinado, se dirigiram ao quarto, involuntariamente, mas sutilmente.

Ato 3 - O ato principal - apogeu
O tango agora se misturava ao flamenco.Ele, com seu terno, gravata vermelha, esbanjava a luxúria que ela possuía. Eram iguais, inimigos mortais. Ele, um psicopata, ela, uma assassina megalomaníaca. Seus passados não condiziam com o que acontecia. Pareciam dois bailarinos, na suave sensualidade do que tocava lá longe, na sala. E o silêncio sumia, a chuva cessou, agora mesmo com as janelas e cortinas abertas o vento não conseguia mais esfriar os fatos, as almas. E assim foi-se misturando a saia preta com o paletó, os saltos com a gravata, e esse momento se traduzia em puro amor, sem interesse, sem o interesse que os levava a chegar a tal lugar, a tal situação.O mundo se uniu por algumas poucas horas, em torno dos dois procurados por todos, vivos ou, preferencialmente, mortos. Já esperavam o fim, mas não aceitavam.

Ato 4 - O silêncio
Depois das longas e poucas horas de puro amor, a música reencontrou seu sentido. O que antes era um canto lírico e sensual, se tornou no mais profundo uma guerra, ainda na cama. Agora o puro amor, o esquecimento, se tornaram um jogo de interesses. Um observador qualquer diria que ali se encontrava o mais divino sentimento, mas a vida ensina que nada é tão simples. Eles se levantaram, agora tocava uma música suave, mas tocante, e eles se lembraram dos seus destinos, suas missões. Apreciavam o belo vinho.Tinto, suave, cor de sangue. Com as taças secas, a moça se levantou, como um agrado, para pegar mais do agradável aperitivo. O último. Colocando pitadas da morte, aquelas que carregava sempre na bolsa, na taça do companheiro, o mesmo segurava de modo sutil e sorrateiro sua arma com silenciador, para evitar possíveis problemas sonoros.Ele não queria que a música fosse interrompida com barulhos de morte.
E assim a moça entregou o sangue venenoso ao amigo, e foi arrumar o vestido preto que usava, amassado após aquele amor puro. Nem pôde terminar de arrumar-se. Um tiro certeiro do colega a fez descansar de tanto amor, misturando naquele belo vestido vermelho manchas de vinho que combinavam com seu salto. Ele, vitorioso, tomou seu belo vinho como uma comemoração. A polícia chegou minutos depois, sabia de tal encontro. Mas a música já tinha acabado.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Resquício da Sociedade

Aqui é o fim...
E agora, sobre os entulhos
Da ex-perfeita cidade,
Vivem escondidos, sem liberdade
Sem luxos, ostentação, vaidade
O resquício da sociedade.

Sobre guarda-chuvas quebrados
E prédios abandonados
Durante as chuvas torrenciais
Os pobres animais sobrevivem, banais
Sem pensar nas filosofias e nas regras gerais.

Entre os que se lembram
Da herança do que é "ser" humano,
Existem os que querem retratar,
Relembrar os momentos, os sofrimentos
Em poesia, em arte, em falar.

É o fim, no campo, na cidade,
Acabou-se tudo, até a privacidade.
A crise da humanidade, hipotético fim.
(Espere, pelo que eu estou vendo pela janela,
Essa ideia não é tão hipotética assim)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ali tem ação (perdida)

Sempre só, superando sustos sóbrios,
Sabres sagazes, sustenidos e solilóquios.
Desafio aceito, enfrenta tantos tanques tortos,
Pobre pobre que pleita ideais próprios.

Ataques, traques, de todo tolo tentando vencer,
Toda a ação, sabia ele, o faria padecer,
Sofrer, subir, descer, como deveria acontecer.
(ele não é capaz de fazer tudo renascer)

Já jogava o jogo julgado pela sorte,
Seu nome e face juravam perdão da morte.
Grandes tempos em que os ventos do norte
Sopravam velozes, varrendo tudo e deixando-o forte.

Agora goza o só da felicidade,
Vendo a tristeza real do povo da cidade.
Caubói do espaço, morto vagando na eternidade,
Ainda há em sua alma uma necessidade.

Em sua mente, antes, a poesia era crescida,
Rimava bem até com a lua sumida.
Era bom de batalha, ninguém duvida,
Até que a poesia saiu de sua vida.

A Morte, até ela, tinha que concordar
Que ele era bom pra improvisar, lutar, rimar,
Mas tirar o dom de repetir sem parar,
Até eu em sua morte de luto me pus a ficar...

(Aí é que há...)

O tempo me persegue

O tempo me persegue
Na escuridão da estrada,
Mas ele não vem me abordar,
Ele sabe que não tenho nada,
Nada de bom para lhe dar.

O tempo me persegue
Com uma arma a mim apontando,
Mas ele não vai atirar,
Ele sabe que eu vou me acabando,
Sozinho, sofrendo nesse caminhar.

O tempo me persegue,
Um fantasma de filmes de terror,
Mas ele não vai me assustar,
Ele já sabe que sofro, sinto dor
De não conseguir amar.

O tempo me persegue
Na estrada da escuridão,
Mas ele não vem me matar
Ele sabe que um dia todos vão,
Ele só quer me ver sofrer, observar

Transição - Prova Final

(Na prova final, durante o tempo ocioso,
Causado por uma rápida conclusão da mesma,
O jovem poeta decide ativar sua criatividade
Até a hora da entrega e da liberdade,
No rascunho inutilizado)

"Transição

Boa tarde.
O sol descasca o couro lento
Dos que se aventuram na epopeia,
Na aventura que é a ventura.

Os sós cumprimentam-se,
Como no encontro do amor
E na despedida da morte,
Esperando a forte noite enluarada.

O crepúsculo ensanguenta o céu.
A passagem do dia nos mostra o dilema da vida:
Do claro à escuridão, flores fecham-se e outras abrem-se,
Com a complexidade de um mundo vão

Boa noite. O tempo acabou."

(E acabou mesmo.
Ao entregar a prova, escondendo os devaneios,
Pensou quando acabaria estes versos,
Que achou "incompletos", mas que não eram de nada mal...

Desistiu da ideia após a recuperação de literatura)

domingo, 17 de junho de 2012

Os espelhos de Alice

E assim, quando Alice, sem firmeza,
Afundou-se no âmago da tristeza,
Decidiu buscar uma resposta
Para a ventura que lhe foi proposta,
Por questões de espírito, ou quem sabe de beleza.

A felicidade da idade foi-se com a idade,
E nos espelhos se refletem essa realidade.
Grandes espelhos que, aliás, escondem um segredo:
A arma que o comparsa de Alice tem medo
De que, ao descobrir dela, ocorra uma fatalidade.

Mas a ventura é uma ironia desgraçada
E enfim a realidade foi desvendada.
Alice ergueu-se da tristeza que mata,
Sorriu, como se fosse uma antiga psicopata,
Cantando a rima de quem foi desprezada.

Ó formas alvas que nos fazem sonhar,
Em cenas longas e lentas que põem-se a colocar.
Nos espelhos, naquela hora, só restavam
As rubras e brancas memórias dos que prestavam,
E que hoje perecem nas covas a cavar.

"Seu amor a mim seria eterno, e foi? Não..."
Foram as palavras de Alice na lápide do caixão.
Por trás dos grandes espelhos, planos ou convexos,
De onde saíam imagens e pensamentos desconexos.
Agora só restam as imagens da loucura, do vão.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A reunião dos poetas

Com o fervor de mentes inquietas,
(Janelas entreabertas)
Deu-se início a uma nova discussão
Na reunião dos poetas.

E assim o mais novo tópico em pauta
Nas mesas do vão salão
Era "o grande futuro da nação,
Das rimas, da emoção".

Entre os variados pontos de vista
Faziam rimas perplexos,
Falando da vida, de emoções falsas,
Digressivos e complexos.

........................................
...........................
.............
....

Pela bagunça geral da razão,
Na discussão pôs-se um fim.
Levantam-se os poetas das cadeiras
Para a diversão, enfim.

Entre janelas e portas abertas
Do grandioso salão,
Dançam, em paz, os vazios poetas,
A dança da solidão.

(até o fim da confraternização
ou da vidinha dos mesmos)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Paradoxo parnasiano

Tentei fazer alexandrinos para minha
Amada, porém não consegui tal proeza,
Então fiz uma estrofe da minha cozinha
Com métrica, rimas raras, à sua alteza.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O poeta ataca novemente

E lá vem o poeta novamente,
Direto do ostracismo premeditado,
Com mais uma obra notória, querendo inovar,
Verossímil ao produto de um escritor falho.

E com grande eloquência,
Não tarda a ser "culto" e arrogante,
Recorrendo aos arcaísmos usuais
Para parecer que (ainda) tem uma mente pensante:

"Possível best-seller, meu magnum opus,
Obra sui generis de natureza metafísica,
Sumi pois estava escrevendo esta prosa na arcádia,
E ela é tão bela quanto qualquer poesia!"

Depois de um discuso ambíguo
Com rimas falhas e o texto impresso,
Assinou um milhão de exemplares
(Quase comprei esse livro, confesso).

O livro seria a salvação dos hipocondríacos,
Afinal a população vive a rotina da depressão,
Elas precisam de livros motivacionais para serem felizes
Enquanto em sociedades alternativas o poeta encontrou para isso solução.

O livro era de uma complexidade gramatical estúpida,
Mas alguém com baixo conhecimento achava normal.
E assim nessas obras a tese é comprovada
De que o ápice do culto é ser coloquial.

Pode ter sido um livro bem vendido
E provavelmente da tristeza muita gente "salvou",
Mas como é comum em artistas do gênero,
Do ostracismo ele veio e ao ostracismo voltou.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Os sonhos são flores altas


Os sonhos são flores altas
de umas distantes montanhas
que um dia se alcançarão.

Resta a areia, resta o barro,
pobreza de folha e conchas
em campos de solidão.

A menina da varanda,
com tantas asas nos braços
e borboletas na mão,

viu partirem grandes barcos,
por mares que não são de água
mas sim de recordação.

Os sonhos são flores altas
dentro dos olhos fechadas,
além da imaginação.

A menina da varanda
dormirá sobre os seus ossos.
E os sonhos, flores tão altas,
de seus ossos nascerão.


(Cecília Meireles)

sábado, 7 de abril de 2012

Espera

Na juventude a puberdade,
Na puberdade a faculdade,
Na faculdade a formação,
No emprego a melhoria,
Junto com a aposentadoria,
Na velhice a medicação.

Tantas esperas para alguém
Que só a morte espera.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Poema transposto

Eu          podia        ter             alguma     coisa
Podia      viver         uma          fábula,      qualquer,
Ter         uma          filosofia,   uma           ideia,
Alguma   fábula,      uma          felicidade   eterna.
Coisa      qualquer,   ideia        eterna,       irrealizada.

sábado, 31 de março de 2012

Contradição

Por estudos avançados de minha mente,
Comprovei que preciso parar de escrever,
Aquilo o que há de fútil,de se perder,
Como se ao simples ver de uma pedra
Inspiração tivesse e um poema precisasse fazer....

(Ah esquece o que eu disse)

domingo, 25 de março de 2012

O poeta

"Neste inferno duradouro
Em que me mata a impaciência,
O rei que quer ser deposto
Não escuta a clemência
De um poeta que, no aperto,
Bate a porta da liberdade,
Da vontade, da decência!"

(o poeta espera, há cinco minutos, o banheiro ocupado)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Reflexões da tristeza do eu-lírico

Talvez a minha vida
Mereça uma nova crítica.
e com que grande prazer me engasgo,
Diminuindo o possível gasto,
Na real farta tristeza fictícia.

Talvez seja um complexo de mediocridade
Ou um excesso de duvidoso aprendizado,
No escuro e no claro, não importa,
Quando o cansaço bate à porta,
A depressão torna-se um fardo.

Talvez esse excesso de fados,
Herança dos "herois" coloniais
Me inspirem a uma tristeza bela (Arrebita!).
Mas não me adianta continuar na cidade,
Nem me exilas nas serras, celas.

Talvez uma escassez ideológica,
Ora niilismo ou egoísmo,
Ora o meu puro anarquismo,
Altruísmo, suicídio.É,
Schopenhauer é absolutismo.

Talvez a minha tristeza
Seja a falta de emoção,
De amor, de um paradoxo.
Mas nada muda, nem processo biológico,
A minha ironia, até na depressão...

...Talvez seja a hora de eu parar de escutar meu eu-liríco

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A vizinhança

Que eles me perdoem...
Em todas as eternas noites indecentes
As conversas alheias tomam meu inconsciente.
Meus devaneios, pesadelos,alucinações
Ganham espaço para a insônia,
Momentos sem ações, até o amanhecer.

Concordo que a vizinhança é descuidada,
Da gravidez até expulsões preconceituosas,
Gritos de amor, roncadas poderosas
Fazem o sono de mais um dia
Tomar lugar para a fofoca despropositada.

Quando a lua perde o seu lugar,
Das ruas as vozes, também nelas me perco,
Rindo de algumas, chorando em outros momentos,
Quando o que bate na minha parede 
Já se cansou de conversar.

Por que amo minha vizinhança?
Porque ela tem muito o que contar,
Do chá de bebê até gente morta
Escuto, como fantasma, atrás da porta,
Até o despertador tocando sua vergonha pessoal.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A melodia do bardo

No bar o andarilho faz seu negócio
Vagando em seus monólogos não lineares,
Com a vida e a bebida como sócios,
Distribuindo olhares pelos bares que esteve a passar.

Sempre lhe diziam que a vida era má,
Até que ela fez uma grande proeza:
Na cabeça veio um si, depois um fá,
E nascia a grande riqueza na cabeça do sócio do bar.

O andarilho, com o instrumento na mão,
Na chuva, começou o improviso da bela canção,
Que faria um dia todos esses pagãos
Louvarem o São Bardo que iriam canonizar.

Mas a bebida ainda o consumia,
E ele a consumiu até cair na avenida.
E a música bela que a todos tocaria,
O mundo a conheceria, o sucesso seria,
Virou a melodia fúnebre do bardo
Que,onde quer que esteja, está livre a cantar.

(quem lhe dizia que a vida era má se enganou)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Noite

Com a ajuda de Osmar Evans...

À noite todos os gatos são pardos
Fadados a buscar ratos
Pelos bueiros fétidos da cidade,
Onde os homens sonham felicidade, sem fardos

À noite todas as luzes são fortes,
Trazendo nostalgia aos andarilhos.
Suas sombras reclamam da sorte,
Por seguir os mesmos trilhos.


Saudades choram em cada esquina
Na noite em que me esqueci,
Cada uma conta uma história,
Memória falha da qual vivi.

E assim nessa noite fria,
os alienados fecham as portas.
minha sombra,a unica luz, me guia,
na noite calma de palavras mortas.

Vida teatral

Grande peça da afeição
Que traço a traço foi feita
Para enganar o coração:
O teatro da vida imperfeita.

O teatro da ficção, do impossível,
Onde o grande protagonista não é o herói,
É só uma pessoa, que se corrói,
Para ter uma vida normal, previsível.

O teatro do falso amor,
Onde a paixão é só dor
De se ter sozinho, só o coração,
Na aposta geral da individual perfeição.

O teatro que, quando vai se acabar,
Não há elogios, palmas,
Só vazias mentes calmas
De decepção.