Novidade

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quinta-feira, 26 de julho de 2012

A ventura do amor

Entre ironias e desgraças da ventura
O mundo é feito,
E fica desse jeito.

Henrique era um rapaz maduro,
Espírito forte, pensamento positivo,
Bem acompanhado, um exemplo.

Ismália era a ovelha negra,
Meio hippie, meio revoltada,
Adorava passeios na praia.

Moravam na mesma rua
Na beira da praia
Compartilhavam uma felicidade diferenciada entre si.

Era já fim de tarde.
Ismália aproveitava a brisa do mar,
Henrique saia da pelada na areia.

Um entreolhar.
Parecia uma cena premeditada...
De normalidade.

Nunca mais se viram.

Ismália enlouqueceu.
Está com as loucuras no céu
E o corpo no fundo do mar.

Henrique empobreceu.
Pede esmolar no fim do mundo
(Ironicamente) por causa de uma mulher.

E assim o mundo é feito
Pelas ironias e desgraçadas da ventura.
E não muda de jeito.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A noite dos amores mortos - Em 4 atos


Ato 1 - A chegada
Era noite, chovia de modo comum para a estação, o horário.Noite de agosto, passava assim entre poças d'água saltos vermelhos,um longo vestido preto, uma capa. Se dirigia a uma cobertura de prédio, daqueles bem antigos, ela adorava coisas antigas, mas sem muito saudosismo.Sobre a calçada que não se distinguia  da avenida de paralelepípedos, andava sozinha, sob seu guarda chuva pequeno,carregando a morte em sua bolsa, sorriso discreto sobre seu fino chapéu, que dava um teor mais conservador ao seu visual, de certo modo paradoxal. Entrou no hall principal, foi subindo as escadas suavemente, chamando a atenção dos que lá estavam, sorrindo e ignorando.Bateu na porta, estava aberta. Já lhe esperavam.A suave moça então tirou seu chapéu,a capa que sobrepunha o longo vestido.O guarda chuva, esse ficou na entrada.Mas esses são meros detalhes.

Ato 2 - O prelúdio
O felizardo sentado no sofá, levantou-se e encaixou a agulha da vitrola no raro vinil.Tango argentino.Então, pegou o vinho, as taças, se serviram. Uma ceia meio incomum, era carne de bode, a longe mesa os dividia, um em cada canto. Sem conversa, sem suspiros, só o tango queimando a vitrola e sendo absorvido nas almas dos dois, que sentiam a paixão fatal percorrendo seus capilares. Eles sabiam que de lá não sairiam, pelo menos um deles, ou os dois. A comida acabou, e o que restou nos pratos esfriou, o vinho era cada vez mais apreciado e mais rápido os afetava. "E agora?" a moça, chegando até esse ponto, foi capaz de fazer pergunta tão insensata. "É o fim" disse ele suavemente, e então se levantaram, ao mesmo tempo e como se combinado, se dirigiram ao quarto, involuntariamente, mas sutilmente.

Ato 3 - O ato principal - apogeu
O tango agora se misturava ao flamenco.Ele, com seu terno, gravata vermelha, esbanjava a luxúria que ela possuía. Eram iguais, inimigos mortais. Ele, um psicopata, ela, uma assassina megalomaníaca. Seus passados não condiziam com o que acontecia. Pareciam dois bailarinos, na suave sensualidade do que tocava lá longe, na sala. E o silêncio sumia, a chuva cessou, agora mesmo com as janelas e cortinas abertas o vento não conseguia mais esfriar os fatos, as almas. E assim foi-se misturando a saia preta com o paletó, os saltos com a gravata, e esse momento se traduzia em puro amor, sem interesse, sem o interesse que os levava a chegar a tal lugar, a tal situação.O mundo se uniu por algumas poucas horas, em torno dos dois procurados por todos, vivos ou, preferencialmente, mortos. Já esperavam o fim, mas não aceitavam.

Ato 4 - O silêncio
Depois das longas e poucas horas de puro amor, a música reencontrou seu sentido. O que antes era um canto lírico e sensual, se tornou no mais profundo uma guerra, ainda na cama. Agora o puro amor, o esquecimento, se tornaram um jogo de interesses. Um observador qualquer diria que ali se encontrava o mais divino sentimento, mas a vida ensina que nada é tão simples. Eles se levantaram, agora tocava uma música suave, mas tocante, e eles se lembraram dos seus destinos, suas missões. Apreciavam o belo vinho.Tinto, suave, cor de sangue. Com as taças secas, a moça se levantou, como um agrado, para pegar mais do agradável aperitivo. O último. Colocando pitadas da morte, aquelas que carregava sempre na bolsa, na taça do companheiro, o mesmo segurava de modo sutil e sorrateiro sua arma com silenciador, para evitar possíveis problemas sonoros.Ele não queria que a música fosse interrompida com barulhos de morte.
E assim a moça entregou o sangue venenoso ao amigo, e foi arrumar o vestido preto que usava, amassado após aquele amor puro. Nem pôde terminar de arrumar-se. Um tiro certeiro do colega a fez descansar de tanto amor, misturando naquele belo vestido vermelho manchas de vinho que combinavam com seu salto. Ele, vitorioso, tomou seu belo vinho como uma comemoração. A polícia chegou minutos depois, sabia de tal encontro. Mas a música já tinha acabado.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Resquício da Sociedade

Aqui é o fim...
E agora, sobre os entulhos
Da ex-perfeita cidade,
Vivem escondidos, sem liberdade
Sem luxos, ostentação, vaidade
O resquício da sociedade.

Sobre guarda-chuvas quebrados
E prédios abandonados
Durante as chuvas torrenciais
Os pobres animais sobrevivem, banais
Sem pensar nas filosofias e nas regras gerais.

Entre os que se lembram
Da herança do que é "ser" humano,
Existem os que querem retratar,
Relembrar os momentos, os sofrimentos
Em poesia, em arte, em falar.

É o fim, no campo, na cidade,
Acabou-se tudo, até a privacidade.
A crise da humanidade, hipotético fim.
(Espere, pelo que eu estou vendo pela janela,
Essa ideia não é tão hipotética assim)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ali tem ação (perdida)

Sempre só, superando sustos sóbrios,
Sabres sagazes, sustenidos e solilóquios.
Desafio aceito, enfrenta tantos tanques tortos,
Pobre pobre que pleita ideais próprios.

Ataques, traques, de todo tolo tentando vencer,
Toda a ação, sabia ele, o faria padecer,
Sofrer, subir, descer, como deveria acontecer.
(ele não é capaz de fazer tudo renascer)

Já jogava o jogo julgado pela sorte,
Seu nome e face juravam perdão da morte.
Grandes tempos em que os ventos do norte
Sopravam velozes, varrendo tudo e deixando-o forte.

Agora goza o só da felicidade,
Vendo a tristeza real do povo da cidade.
Caubói do espaço, morto vagando na eternidade,
Ainda há em sua alma uma necessidade.

Em sua mente, antes, a poesia era crescida,
Rimava bem até com a lua sumida.
Era bom de batalha, ninguém duvida,
Até que a poesia saiu de sua vida.

A Morte, até ela, tinha que concordar
Que ele era bom pra improvisar, lutar, rimar,
Mas tirar o dom de repetir sem parar,
Até eu em sua morte de luto me pus a ficar...

(Aí é que há...)

O tempo me persegue

O tempo me persegue
Na escuridão da estrada,
Mas ele não vem me abordar,
Ele sabe que não tenho nada,
Nada de bom para lhe dar.

O tempo me persegue
Com uma arma a mim apontando,
Mas ele não vai atirar,
Ele sabe que eu vou me acabando,
Sozinho, sofrendo nesse caminhar.

O tempo me persegue,
Um fantasma de filmes de terror,
Mas ele não vai me assustar,
Ele já sabe que sofro, sinto dor
De não conseguir amar.

O tempo me persegue
Na estrada da escuridão,
Mas ele não vem me matar
Ele sabe que um dia todos vão,
Ele só quer me ver sofrer, observar

Transição - Prova Final

(Na prova final, durante o tempo ocioso,
Causado por uma rápida conclusão da mesma,
O jovem poeta decide ativar sua criatividade
Até a hora da entrega e da liberdade,
No rascunho inutilizado)

"Transição

Boa tarde.
O sol descasca o couro lento
Dos que se aventuram na epopeia,
Na aventura que é a ventura.

Os sós cumprimentam-se,
Como no encontro do amor
E na despedida da morte,
Esperando a forte noite enluarada.

O crepúsculo ensanguenta o céu.
A passagem do dia nos mostra o dilema da vida:
Do claro à escuridão, flores fecham-se e outras abrem-se,
Com a complexidade de um mundo vão

Boa noite. O tempo acabou."

(E acabou mesmo.
Ao entregar a prova, escondendo os devaneios,
Pensou quando acabaria estes versos,
Que achou "incompletos", mas que não eram de nada mal...

Desistiu da ideia após a recuperação de literatura)