Novidade

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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Lembranças

Chovia. Eu esperava a minha deixa, uma hora pra seguir meu rumo, quando um fluxo de pensamento acelerado me atingiu. Memórias, desejos, tristezas, um delírio. Encostado na parede, me deixei levar, não tinha pressa. De repente me vieram as lembranças da infância, do dia em que olhávamos pras estrelas e iniciávamos aquela filosofia de criança, o futuro, até elas sumirem e começasse a chover. Me lembrei das expectativas, do clichê mais belo das inesperadas expectativas. Quando me vi, estava pensando no lugar de onde acabara de sair, do passeio do parque do dia anterior, do evento do ano passado, em que todos se reencontraram, e riram. Tentei parar de pensar, a chuva afinava, e mais e mais vinham as festas, as crises, o dia em que vimos a morte de perto, ou ainda quando eu me conheci, te conheci. E assim, depois dos quinze minutos mais resumidores da minha vida, a chuva parou, mas ainda chovia destro de mim: desejos, lembranças, esperanças, lágrimas. Uma felicidade tremenda de voltar ao passado e reconstruir tudo, de viver de novo e de novo, cada vez mais intensamente veio à tona. Sua imagem apareceu, seu sorriso, o campo aberto e estrelado na primavera, dos piqueniques e das estrelas. Mas não. Segui meu caminho rumo ao meu destino, talvez um lugar aconchegante, quem sabe meu fim, meu desastre. Mas ainda resta alguma coisa, toda vez que chove lembranças em mim, toda vez que ando pelas ruas a noite, toda vez que chove, daquelas estrelas que não vejo mais.

domingo, 14 de outubro de 2012

Crises

Flora vive uma crise existencial antitética:
Sofre com a dor da prisão,
Dos momentos infinitos sem descanso,
Mas também com a privação, a falta de decisão,
Em uma exacerbada liberdade.

(intestinal)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Poeta-falsidade

Nos confins do subúrbio
Está o poeta-depressivo:
Amor, cotidiano, felicidade,
São temas do seu coloquialismo,
Mas ao acabar um poema chora,
Da sua vida, do mundo, de todos,
Deita nas teclas do piano sofredor,
Com flores amarelas em memória da solidão.

Na loucura do centro da cidade
Está o poeta-pseudodepressão:
Morte, tédio, cansaço,
São tópicos dos seus versos brancos,
Mas ao acabar um poema brinda,
Vinho, uísque, a amizade,
Deita no Futurismo vivido,
Na memória dos descartáveis que vêm e que vão.

No isolamento do desconhecido
Está o poema-emergente:
Amor, morte, coisas simplórias
São o resumo de seus versos metrificados,
Mas ao acabar um poema o apaga,
Lê parnasianos, neoclássicos, romancistas,
Deita na matemática poética,
(Ainda tem muita falsidade para aprender).

domingo, 7 de outubro de 2012

Evolução

Era ainda garoto quando, um dia,
Enfrentou a pior prova da sua vida:
Não valia nada, não mudaria sua vida,
Ele não sabia resolver absolutamente nada,
Enquanto seus amigos se divertiam no êxtase do sofrimento.
O prêmio era bom, mas ele abriu os braços após o tempo mínimo,
Entregou a folha vazia ao fiscal falando com seu tom conformista:
"Não vou perder mais tempo com o nada que sei fazer".

Era já adulto quando, um dia,
Enfrentou a pior crise de sua vida:
Ele não valia nada, e não mudaria de vida,
Não sabia resolver absolutamente nada,
Enquanto seus amigos se divertiam no êxtase do seu esquecimento.
O prêmio era bom? Que prêmio? Ele abriu os braços após puxar o gatilho,
Entregou a vida vazia à morte com seu tom conformista:
"Não vou perder mais tempo com o nada que sei fazer".

Cansaço

Estou cansado dos inícios maltratados,
Dos projetos inacabados,
Das ideias formuladas com um desejo incessante de erro,
Mas não descanso.

Estou cansado do meio-termo, do em cima do muro,
Dos improvisos desgraçados,
Da mentira e da hipocrisia queimando nas almas,
Mas não descanso.

Estou canso do excesso, da exaustão,
E também da procrastinação excessiva,
Da vida que não se vive,
E não descanso.

Estou cansado desse poema,
Do pieguismo, dos clichês.
Estou cansado de estar cansado,
Do cansaço que dá reclamar do cansaço.

(Boa noite)