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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Uma festa perdida no tempo

Foi num sábado suave de outono. Era noite, a lua estava cheia de si, com o ego sendo acariciado pelos comentários e olhares, mas logo com ciúmes do salão, das vestimentas, do tapete vermelho. Ah, que tapete! Esfolado, mas vermelho. Velho, mas vermelho. Resplandecia um tom rubro vivo, fino, mesmo que fora de seu tempo. E logo passavam por ele os convidados, em seus trajes, suas saias com babados e finos detalhes, suas casacas, seus fraques, seus smokings. Era a passeata de patos, pinguins, coelhos e baleias pelo tapete vermelho, que levava ao salão, que podia não ser o de Versalhes, mas servia muito bem para a ocasião. Na porta estava o anfitrião, esbanjando sua virtude, sua barriga, em sua tentativa de fazer um baile de máscaras francês do século XIX no Brasil do século XXI, com uma verossimilhança insana e surreal. Eu nunca fui em bailes do século XIX, mas ele teve muito trabalho para tentar fazer algo parecido com um.

Fui o penúltimo a chegar, com um paletó surrado, uma camisa furada na axila e um sapato sem brilho, dois calos e uma bolha no pé,mas com um ar sutil de nobre (que só tem o título de). Fui recepcionado de maneira igual ao outros, com o mesmo olhar de raio x que analisa até se o botão da camisa combina com a gravata (e não combinavam), mas com uma cara de reprovação e de "eu te chamei realmente pra MINHA festa?". Fui convidado a entrar e dançar. Com uma coletânea aleatória de valsas e músicas eruditas, o conjunto de seis músicos - dois violinistas, um pianista, dois violoncelistas e um flautista - sentiam a falta de um regente e de um tímpano (no conjunto e no corpo) e perdiam o tempo quase sempre, até porque algumas vezes eles, como o resto da festa, ameaçavam um cochilo oportuno. Com quitutes finos e não muito apetitosos, e com vinhos e champanhes caríssimos e sem graças a festa seguia, com conversas aleatórias, uns pedantismos, um Rousseau, um Maquiavel, abóboras, pepinos e abacaxis. As pessoas se sentiam realmente nos tempos da realeza, soltavam até umas expressões em um francês ibericamente torto, entraram em seus personagens, em suas máscaras, sem tecnologias, sem nada, pelo menos nas horas que não eram oportunas - o anfitrião reclamava -, se sentindo acomodadas no calor do salão e da noite tropical.

A festa parecia correr monótona, até quando, com uma taça quebrada, foi anunciada a valsa. E, como num baile de debutante ou numa formatura de colégio, as pessoas começaram a dançar, ao som do belo Danúbio Azul. E só pela música já estava feliz, quase chorando pelo prazer de ouvir a valsa, mesmo que torta, que me acompanha nos momentos de felicidade/insanidade. Foi quando alguém me chamou para dançar, já meio embriagado, e fui. A companheira de valsa sabia o que fazia, em seus passos, sua postura, seu vestido, seu cheiro de donzela. Parecia realmente que ela era de dois séculos atrás e apareceu só para me fazer sentir fora do meu tempo. Vi princesas, vi cavalos, vi o passado, só não vi seu rosto. Uma pena. Não vi mais ela e ninguém a conhecia (grande clichê de um baile de máscaras). Depois de finda a dança, passou um tempo e eu saí da festa, o segundo a se despedir, sendo ajudado por Dionîsio para não cair e não dormir, embriagado de vinho (não existi no dia seguinte). Saí do salão, dei um tapa na cara, voltei ao século XXI, peguei meu celular e chamei um táxi. Vi que o sol ia demorar um pouco para acordar e que as Cinderelas já tinham virado abóboras, e ,quando ia esquecer tudo de vez, vi um relógio de bolso no paletó, talvez uma lembrança que o anfitrião quis dar (como em festa de criança), talvez um presente da viajante do tempo durante a hora da valsa, que tenha passado despercebido, não sei bem. Minha reação ao vê-lo foi rir (por falta de opção). Era bonito, folheado a ouro, com a hora travada em 4:19. Eu não sei mexer nessas coisas antigas, tenho medo de quebrá-las, mas que seja, ficou parado no tempo, como deveria - provavelmente esteja quebrado, mas nem vale a pena arrumá-lo - . Foi uma festa e uma experiência interessante e surreal, mas voltar no tempo é uma coisa que acho que não faz o meu estilo, é confuso e pode causar sérios danos físicos e mentais. Não recomendo muito, seja qual for o meio de transporte transtemporal.

domingo, 12 de janeiro de 2014

(Nota a se desconsiderar)

Perdoem-me, eu não devia estar realmente aqui,
Eu só tenho mais 10 minutos de paciência, não vou demorar...
A insônia ataca, um ataque mental, um teste de resistência:
"Você consegue se aguentar por quanto tempo sozinho?"
O mundo gira e ignora as pedras, o granizo, a geada,
Enquanto isso. minha mente não acompanha seu ritmo:
Vai mais acelerada (como isso nem eu sei).
Chuta as pedras com ironia e desprezo,
Vai agitada andando, descalça e atenta, na estrada cascalhada da vida,
Esperando encontrar mais a frente chinelos, asfalto, sombra e água fresca.

Mas talvez eu seja um ingrato,
Reclamando e dando importância para as querelas que surgem,
Ignorando a sorte e quão boa realmente é minha vida,
E que outras pessoas tem problemas maiores e blá blá blá.
Pouco importa, eu gosto de falar, relaxa a alma,
E por isso estou aqui, já é o suficiente.
Tenho (?) "muitos" "problemas" e tem horas que até eles se cansam,
Essa é uma.
Mas meu tempo está acabando, então é melhor ir embora,
Porque o mundo é o nosso supervisor mais chato,
E eu sou só o estagiário do mundo real.
Muito obrigado, e me desculpem.